sexta-feira, 26 de junho de 2009

Peça Teatral - Ruas de Barros

Ruas de Barros é um espetáculo de rua sobre a vida e a obra do poeta matogrossense, Manoel de Barros, em que assumi a direção de arte, desenhando os figurinos e adereços.
Por meio de uma bricolagem de poemas do próprio Manoel, a dramaturgia foi montada pelo diretor Frederico Foroni com colaboração do elenco e equipe de criação.
Contemplada pelo prêmio PAC este ano de 2009, a peça viajará pelo interior do estado de São Paulo somando às apresentações, oficinas de difusão literária.
As fotos são do ensaio aberto feito no domingo dia 21 de junho no Parque Vila Lobos, na cidade de São Paulo.
Agradeço a colaboração dos que me ajudaram neste processo: Marina Poema, que me deu assistência muito bem vinda (querida!), Dona Benê, que costurou estas imagens e Jesus, aderecista que confeccionou parte destes adereços.
Agradeço também ao Fre, pelo convite para este trabalho, pelo convite eterno. Em nosso espírito esta marca latente de Teatro e Poesia. Um beijo grande, querido.
Sobre a construção do personagem
Meu método de trabalho através dos desenhos testa o processo criativo que estou pesquisando e no qual acredito profundamente - o de traduzir por meio da construção plástica, pelas formas e cores principalmente, a personalidade de um personagem. Tento tornar visíveis os aspectos invisíveis que os fazem ser quem são.

Apresentando... o Poeta
Para alguns figurinos e alguns adereços, usei como referência (e inspiração) algumas obras do artista plástico Artur Bispo do Rosário, suas aplicações, bordados, capas. Soube inclusive, em minha pesquisa, que Manoel de Barros tem grande admiração pelo artista.
Os poemas escritos obsessivamente no guarda-chuva, por mim mesma em tinta relevo, remetem aos bordados que ele fez de textos e frases soltas em algumas de suas obras. Ao mesmo tempo, remeto à obsessão saudável do poeta - ou do artista - em realizar sua obra.
O guarda-chuva do Poeta levou 12 horas ininterruptas para ficar pronto.
"O rio era uma cobra de vidro mole que passava atrás da nossa casa"

Desenhos que fiz para figurino e adereços do Poeta:

A Ânima do Poeta
Eis a manifestação da alma do Poeta, algo como uma entidade sensível, cheia de clareza e translucidez. Sua musicalidade é melódica, toca acordeon.
O Menino
Este personagem foi desdobrado no decorrer dos ensaios e dos testes com atores interessados.
A atriz Josy havia feito teste para o papel de Ânima, mas desempenhava muito bem o papel de Menino, antes articulado pelos personagens Poeta e Andaleço em diferentes momentos da peça. Resultou que em vez de algumas falas, transformou-se em um personagem inteiro.
O Andaleço
O Andaleço dos poemas de Manoel de Barros me veio com uma personalidade muito parecida com a de Bernardo. É um andarilho, a "liberdade em trapos"; liberdade de viver, de falar como bem entende, "não teve estudamento de tomos". Acima, Andaleço em frente seu carrinho de caixas e o varal de poemas.
Em seu cabelo nascem "preguinhos primaveris". Andaleço, o doido-do-beco, possui tampinhas de cerveja em seu guarda-chuva de jornal velho e argolinhas de lata em sua peruca de estopa cinzenta.
A imagem do ator com a máscara registra a passagem rápida do personagem do Doutor, com traços de Comédia del´Arte. Pondo a máscara o personagem vem, dá a sua deixa implicante e em seguida e vai embora - "uma estultícia!"














A Dona Maria

Versão feminina de Andaleço, seu par romântico. É um personagem muito divertido e foi muito gostoso imaginá-lo. Ela é redonda como o seu humor, sua generosidade farta e macia. Devora o mundo com uma boca grande, é grotesca. Suas intenções acabam frustradas como as de um clown augusto.



O Bernardo
Bernardo da mata é o andarilho do Pantanal, representante da sabedoria da natureza. É feito dos elementos naturais, da pedra, da terra, aquilo que se camufla e está por todos os lugares, aquilo que o tempo sedimenta.
Por causa daquela visão integrada dos dois personagens, a princípio via o poncho para o Andaleço e não para Bernardo. Depois de muitas conversas entre eu e o diretor, nos afinamos para esta imagem, muito mais coerente.

"Andando devagar eu atraso o fim do dia". Foto detalhe para as aplicações em tiras de couro e sementes no poncho de Bernardo.

A Mãe
Aqui a mãe do Poeta, que consola o Menino pela perda do Pai.
Dele nos é dada apenas a visão de uma imagem pálida, atrás do cortinado da tenda.
Em minha opinião, um dos trechos mais bonitos da dramaturgia:

"Estou só. Estou simples. Não como essa poderosa voz da terra com está chamando, pai. Porque as cores se misturam em teu filho ainda e a nudez e o despojamento não se fizeram em seu canto; mas simples por só acreditar que com meus passos incertos eu governo a manhã feito os bandos de andorinhas nas frondes do ingazeiro".

E os personagens espectros saídos dos livros, palavras, pensamento vivo do poeta se vão em busca de novos campos verdes.

8 comentários:

serenoser disse...

que lindo Carol. que doce, sensível, articulado, sábio e criativo. lindas postagens. lindo processo. afeto eterno e carinho infinito.

Anônimo disse...

Carolina, o espetáculo deve ter sido belíssimo a julgar pelo seu trabalho e pelos versos do poeta. Você está cada vez melhor. Felicidade pura! Sucesso pra sempre. Joana Lispector

Unknown disse...

Cá parabéns!! Realmente vc uma artista! Sucesso sempre, Vc vai longe priminha!! Bjus!!

Flávio Paschoal disse...

Foi um prazer trabalhar contigo neste processo. Além da beleza de seu trabalho é muito fácil fazer as coisas contigo. As fotos estão lindas também. Enfim..tudo perfeito! Parabéns pelo blog. Espero que creça mais e mais em sua carreia - merece!
bjos, Flávio ( um certo produtor de um certo "Ruas de Barros" )

J. Sepúlveda disse...

Parabéns pela arte, original em tudo.

Anônimo disse...

Carolinda!
Vc é o máximo! Fez um trabalho maravilhoso que mostra claramente todo o seu talento.
Parabéns!

Unknown disse...

adorei muito!!
parabéns pela sua criação tão especial.
vc monumentou o nosso trabalho com sua composição poética.
obrigada

.bella. disse...

é bonito, sempre bonito. suave para os olhos cansados.