segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

REFLEXO REFLUXO - (2002)

O homem, cansado, em plena semana de trabalho, pensava enquanto ia para casa. O que ele produzia todos os dias, transformava em alimento, à vezes em alegria e, ainda buscava satisfação.
Nesse dia pensava em seus ancestrais. Como seriam, os mais antigos. Teve vontade de sentar para tomar água. Há quanto tempo aquela água era água? Bebeu um gole e sentiu um gosto de milênios e mais purificado impossível. Esse gole ele bebeu mas não matou a sua sede.
Tantos anestésicos, aos sábados, aos domingos e nenhuma entrega. Então não há descanso, nem recompensa. Também não há nenhuma visão para se assombrar, tudo como de costume, para não fugir do hábito.
Lembrou de sua casa, veio um desejo de sossego, mas a promessa não parecia muito verdadeira. A casa, mesmo vazia podia ser cheia de vozes, poucas imagens.
Perdeu-se olhando o movimento das pessoas na calçada. Olhava cada uma com muita atenção e imaginava pensamentos, falas, via cenas.
Engraçado que tudo se tornou de um colorido bonito, desconhecido. Uma coreografia leve na qual as cenas se completavam. Não importava o calor, e os carros eram caras criaturas que passavam por ali e também não importava muito se estavam passando. Não é que as pessoas com nada se preocupassem. Mas é que para tudo parecia haver um milagre, delicado e intenso.
De repente, bebeu um grande gole da água, e sentiu que a vida podia ser uma delícia. Levantou-se.

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