segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Sequência de 12 poemas da Vídeo Instalação Duoelo - (2002)

I.

Certo dia descansei na
barriga da inconsciência
e lá fiquei no escuro
quieto.

Na minha barriga tocou um sino
Um sino agudo e de veludo
mas sozinho.
No meio da quietude.

O agudo espetou o veludo.

Na barriga ponho o dedo e
dói, contudo,
o medo
mudo.



II.

Escorria o tempo,
não existia.
Não podia ver minhas mãos
nem nada se via
Quando tudo chamava
e eu não ouvia.




III.

E assim vai se vivendo.
Não sei se foi o veneno,
ou já estava mesmo doendo.





IV.

Em árvore seca
não dá nada
tudo passa
folha seca e
passarada
Sem carinho
resta lá:
-- árvore parada




V.

Seja dor ou flor,
seja o que for,
sei que sinto dó da flor
e dor, com o que for.




VI.

O amor me pesa o meio
metade tão só
e o resto tão cheio!
Quando me pergunta
se é medo o que sinto
ou, no fundo, só receio,
sei o que sinto –
que tudo me aflige
e eu, pouco permeio.




VII.

Minha semente do ser
engasgada
na garganta da confusão.
Já me disseram que sem fusão
não desengasga mas,
confusão queima a garganta
como que tragada por uma
fumaça.
E minha semente,
engasgada.




VIII.

Ruas crescem diante dos meus olhos.
Coisas nascem diante dos meus olhos.
Os brilhos vibram,
a água flui e eu também.
Meu olhar ataca
as coisas mordem.
As dores amordaçadas
tocam
e tentam
um corpo, ou pedaços.
Meu ouvido explode de silêncio
e já não quer ouvir mais nada.
Na minha boca
um gosto estranho,
sem saber do que se trata.




IX.

Eu estou aqui
e você, aonde está?
Eu sou o que a fé restringe.
e com você, o que há?
Sou o que o dedo não alcança,
mas o que o olho toca, quando quer tocar.
Eu sou o que o ouvido exprime
e a boca exala
quando o vivo vive.
E você, o quão sublime?

Eu sou parte de tudo
tudo que te deixa mudo.

Eu sou você e
você é o meu escudo.




X.


Viva de vida infinita
Cheia de cores que você vê
e viram
cheiros
de emoção.




XI.

Alegria grande
perceber-se em outros campos.
E os espaços,
infinitos.
Eu estou
onde tudo está.
Se eu quiser ser
e começar.




XII.

A beleza do mundo mora
em mim.

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